quinta-feira, 28 de maio de 2009

VINHO

A taça que transborda
Deixando escorrer pela sua mão
O líquido carmim
É a memória do não e do sim
Do sim fantasiado de não

E a sedução é só isso
É o convite sem pretensão explícita
É malvadeza da alma
Que transforma em algoz
O verbo que ousamos conjugar

Não cuido eu do que peço
Pois que tenho sido simples de sonhos
E a felicidade não sendo o destino
Mas o simples caminho, me diz:
Não preciso de muito para ser feliz

E o brinde levantado, quando ainda se está sóbrio
É só um copo tremulando no ar
Não traduzindo o que se pensa de fato
Pois os olhares e todos os gestos
Dirão no silêncio: - Não preciso falar

Lila

Este texto foi escrito em 27/05/2009, às 23:00hrs, sob provocação do meu amigo Roberto

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Desejo

Seu toque é sensualidade pura
Desejo que não cabe em si
Transborda carícias que me levam além
Muito além do limite
Onde previ chegar
Deixo então cair a máscara
Que me manteve distante
Pra te entregar
Até mesmo
O que desconhecia possuir

E meu desejo
Antes dividido em blocos
Espalhados pelos cantos do meu sentimento
Juntam-se de uma só vez
Cegando, emudecendo, castigando
Todos os tabus que insisti em manter
E assim estou em ti
Como tu tens estado em mim
Reescrevendo uma estória
De imprevisível fim


Lila

domingo, 17 de maio de 2009

Sonho de Hoje

Adormeci
Fora de hora
Tive um sonho
Que não foi pesadelo
Num escritório eu queria
Dar-te um poema
Mas o pc estava
Estragado
Pulei a janela
Sob a chuva
Pra ir ao prédio vizinho
Olhei para trás
E vi você tentando
Vir atrás de mim
Todo enrolado
Nos fios do teclado
Subi muitas escadas
Acabei caindo
De costas
Estatelei-me ao chão
Desmaiei
Quando abri os olhos
Estava ainda deitada
Num imenso salão
Que tinha nas paredes claras
Magníficos labirintos
Desenhados
Alguém me abraçou
Me beijou
Camisa azul clara
Gravata
Nessa hora tive certeza
Eu havia morrido
E estava no céu
Nos braços de um anjo
Que sonho lindo...

Lila

Portal

O inverno já tinha ido.
Há muito se despedido.
Mas,
Naquela noite,
Era frio que eu sentia.
Extremidades arroxeadas,
Tiritante eu me consumia.
Numa mistura de concreto e flores,
A folhagem se debatia,
No vento que insistia.
Levantei meu olhar,
A uma altura,
Muito superior à minha.
Vi um riso,
Que se abria.
E naquele abraço quente,
Havia tanta poesia...
E ali, fiquei eu,
Num tempo que já não contava,
Lógica que não existia.
Diferença que no fim,
Se ajustaria.
Futuro que à minha porta batia.
Naquele portal,
Ainda permaneçerei.
Por mais um tempo,
De lá, não sairei.
E não há como não ser assim,
Naquela noite,
Fizestes seu escravo,
Um pedacinho de mim.
Lila

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Estação

Muda
O tempo
O vento vira
A direção
Parada
Para pensar

E como pássaro
Deixar migrar
Os sonhos
Para outras paragens
Noutras viagens
Que não sejam
A um porto só
Há tantos braços
Tantos abraços
Desviar a mentira
Ilusão
Construir
Uma verdade
Que não seja
Relativa
Que esclareça
A cabeça erguida
Pela ausência
De sentimentos
Inferiores
E receber da vida
Beijo assoprado
E não ser mesmo
Igual
Olhar
Enxergar
Como permitem
Olhos humanos
Sentir
Harmonia
Com o sagrado
Direito
Existir
Como nova estação


Lila

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Louca

Meu órgão vermelho
Representante do amor
Anda descompassado
Complacente
Nada resiliente
Doente
Não tenho horários
Prazos ou medidas
Mas sonhos que são mutantes
Não conjugo o verbo ter
Do materialismo
E prefiro a vida
Marginal
Meu cão me diz bom dia
Respondo au au
E que digam
Que eu me perdi
Enlouqueci
E te dei um poema
Quando já não mais
Valia a pena
Que sobre meu dedo
Indicador da mão direita
Existe um hematoma
Que eu não me lembro
De onde veio
E que sou eu a pedra
Do meu próprio caminho
E que busco as cores
Da aquarela do louco
Para pintar com elas
O meu destino.


Lila

domingo, 10 de maio de 2009

Você

Como é linda a vida
Quando me vens
Com esse amor doce
A forma da minha medida
Como é linda sua fala em versos
Pausados, compassados
Dono dos grandes olhos negros
E a tez queimada do Sol
Nas mãos muitas marcas
Labuta que me excita
Um cheiro de luta vencida
Candeia que me alumia

Seu riso se abre em pérolas
Contraste que me enlouquece
És deus descido do olimpo
Desejo que não posso conter
E mesmo que eu negue
Que teime, que desespere
Sou sua e isso é fato
Carinhosamente consumado
Camisa sempre branca,
Calça jeans bem ajustada
És meu bem, não tem jeito
As duas faces da minha moeda

És meu amor,
Minha paixão pura
Ardência que me queima
E nunca me machuca
O poeta que justifica
Os dias que respiro musa

sábado, 9 de maio de 2009

Mamãe


Sou agora impotente
Mas ainda muito importante
Para você
Mesmo quando chorando
Percebo que não consegues mais
Se lembrar quem sou
Mas vejo no seu olhar
Que sua alma me reconhece
E sou sua Lila
Com orgulho
Apelido que tão docemente
Me destes.
A sua terceira filha.
Ontem, um amigo
Percebeu que meus olhos são claros
Como os seus
Pensei então em você com ternura
No quanto eu te amo
E nas quantas vezes mais
Eu te direi isso
Mamãe
Reconheço as limitações impostas
Pelo seu sofrimento
Pela sua perda
Que é tão nossa também
Mas ainda somos
Sete mulheres
Seis fortalezas
Que você construiu
Somos felizes demais
Se te faltou um bem tão caro
Te fazendo adoecer
Creia mãezinha
Todas nós morremos também um pouquinho.
Mas isso são coisas da vida
Inevitáveis
E mesmo agora
Quando não mais podes me ler
Eu te direi isso tudo
Baixinho no seu ouvido
E você vai sentir o quanto
EU AMO VOCÊ

Lila

Minha mãe tem Alzheimer

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Selvagem

São luzes
Um brilho úmido
Que vejo assim
Nesse seu olhar
Que me encanta
Sou criança
Nada sei
Eu só sei sentir
E ler no ar
O convite
E na pele ver nascer
O medo
O aviso do meu fim
Medo de me perder
E ainda assim me encontrar
E poder adormecer
Nos braços do desconhecido
E no dia seguinte
Ao me olhar no espelho
Me sentir feliz
Como nunca consegui ser
Medo por perceber
E poder tocar
A linha tão tênue
Que vem separar
Nossa sanidade
Da nossa loucura
E seguindo o instinto
Selvagem eu permito
Que alteres o curso
Desse meu rio
Que mudes o rumo
Dessa minha história
E que no final
Possas me dizer
Com todas as letras e verbos
Que eu nunca soube mesmo
O que fosse viver



Lila

Olhos Tristes

Era pra ser um adeus
Em forma de flor que murchava
Um amor que agonizava
E do seu olhar que lacrimejava
Ouvi frases mal planejadas
E entendi que me dizias
Ainda não era o fim...
Caminhei outros caminhos
Desviei da sua trilha
Desenhei outro destino
Derramei-te aos pouquinhos
Como lágrimas
E adormecestes
Sono profundo
Dentro de mim
Mas hoje ainda sussurras
No ouvido do vento
Que ainda não podes
De mim se esquecer
Quem sou eu
Poeta dos olhos tristes
Para contestar?
Se quando murmuras
Por mais baixinho que seja
Meu coração pode ouvir?


Lila

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Minha Fada, Minha Madrinha

Roda o mundo
Gira a roda
Gigante
Gira minha cabeça
Pensante
Roda a sua saia
Esvoaçante
Feita do tecido
Que seria meu vestido
Criança que sempre fui
Olho a janela
E vejo a vida
Correndo lá fora
Ausente me senti.
E quando você se foi
Eu não estava lá
Eu não estive lá
Já sinto saudade
Da sua presença
Mesmo estando do seu lado
No último tempo
Em que te posso ver
Envolvida nessa fantasia
De rainha
Que por tanto tempo usou
Ah, não lamento
Fostes em mim
Certeiro exemplo
E tudo foi tão lindo
Como seus cabelos negros
Longos
Que me acariciavam o rosto
Hoje tem festa no céu
Muitos anjos te esperam
Muitos outros aqui choram
E eu peço
Eu imploro
Que os anjos daqui
Silenciem
Sintam o vento que sopra
Sintam o beijo da fada
Da minha fada madrinha



Para minha madrinha Conceição que nos deixa nesse dia.

Lila

terça-feira, 5 de maio de 2009

Frank - Sinatra ou Stein?

Te ofereço um trago
No meu cigarro
E humanos
Mulambos
Vagamos nas ruas
Nos encostamos
Um no outro
Bebo um gole
Do seu rum
Nos perdemos na vida
Encontramos a saída
Boêmios ou não
Poetas e loucos
Somos dois trapos
Eu e você
Soltamos amarras
Da solidão
Voamos sem asas
Sobre a nuvem negra
Ameaça de temporal
Lá no alto
Vamos parar
E a cidade
Adormecerá
E que durmam os justos
Os injustos
Estamos muito acima
Do bem e do mal
Vendo de cima
Luzes que ninguem mais vê
Um brinde a você!
Doce caçador
Um brinde a você!
Idiota sonhador
Comemoremos a vida
Brindemos o encontro
Que nos trouxe um ao outro

Como vento do norte
Num golpe perfeito

da sorte!

Lila

Bruxa?

A bruxa
Varre sua tristeza com a vassoura
A mesma com que voa
Pelos céus de BH
A bruxa
Espera o celular tocar
E pela janela sai voando
pousando suavemente
Nos seus lençóis do inconsciente
A bruxa já não te enfeitiça
Te conquista
Elegante
De fada tem jeitinho
E na taça do seu vinho
Que reflete ainda, sobriedade
A precariedade da sua vontade
Do desejo não realizado
Que já não podes controlar
Ela então te desnuda
Seu desejo põe à prova
E o seu amor platônico
A verdade que não ousou contar
A bruxa te faz,
de novo sonhar
E não é boa
Tampouco é má
A bruxa,
Meu senhor
Semeador de paixões
É linda
É flor
É mulher.

Lila

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A contrapartida do poder de pensar

Quando meu caçula tinha 2 anos, perguntaram a ele o que queria ser quando crescesse. Sem titubear, ele respondeu: - Um chapo! (ele queria dizer “um sapo”).
Lila
"Detenho a supremacia sobre as demais espécies
Penso. Tenho raciocínio lógico
Posso. Escolho meu próprio caminho
Traço minha trilha. Ordeno
Decido quem é bom, ou ruim.
Quem deve morrer, ou viver.
E vejo nisso um dom.
Esqueço a responsabilidade,
A contrapartida do poder de pensar.
Que orgulho posso ter, em fazer parte dessa espécie?
Onde enquanto uns constroem, tantos outros destroem?
Não seria melhor ser um sapo ou um pássaro?
E viver cada um dos meus dias, como se único fosse?
Deixando a natureza seguir seu curso, sem precisar interferir?
Se evoluí de outras espécies ou se recebi um sopro nas narinas
E me fiz a criatura mais bela e mais perfeita de todas?
Sim, eu sou a mais bela das criaturas!
Mas me esqueci completamente, que não importa os séculos que se vão.
O poder certamente um dia, mudará de mãos!
Enquanto em mim somente pensei
Dos que me cercavam, não me lembrei.
Um monstro me tornei.
E assim arrogante, pensei que evoluía.
Insanamente eu me destruía
Agora urge que eu reconheça
Que isso nunca foi inteligência
Pois que de nada me valeu o pensar
Se nem mesmo a mim
Consegui preservar".


Texto escrito para cumprir a tarefa a mim delegada ao receber o Prémio Lemniscata, do blog do Whesly Fagliari – Amigo da Sofia.


Regras:


A) Expor o selo no blog;
B) Presentear outros sete blogs, de qualquer temática, com o referido prêmio e suas devidas regras;
C) Escrever um texto e publicar respondendo a seguinte pergunta:
O Que Significa Para Você Ser Um Homo Sapiens?

Publico agora alguns dos meus indicados, que são poetas que leio sempre e admiro muito:

1)
http://osnascimentosdaspalavras.blogspot.com/
2) http://coisasquevievivi.blogspot.com/
3) http://providentworldnews.blogspot.com/http://horushu.blogspot.com/
Lila

Justiça

Há um tempo certo
Para amar,
Para sofrer,
Para esquecer

E o alvo, com o tempo
É revestido pela indiferença
Que torna nula
Qualquer vaidade ou disputa

A mágoa provocada
Propositadamente implantada
No coração alheio
Também tem seu tempo de glória

E graças à sabedoria divina
Perece como tudo o mais que é vivo
E no abismo onde mora o desprezo
A mágoa dormirá vencida

E os corações magoados
As almas entristecidas
As vontades reprimidas
Curam-se no bálsamo da vida

E a dor causada
É investimento de curto prazo
Extremamente rentável
Que retorna líquido e certo

E do perdoado e esquecido
Surge o mais puro e refinado prazer
Emerge magnífico, o real sentido
Da palavra justiça

Lila

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Musapoeta

Meu coração de poeta
Chora a mágoa não digerida
Impotência estabelecida
Quando não posso mais reter
Meus sonhos que morrem vermelhos
Como sangue que tanto faz falta

Meu coração de musa
Convoca meu ser a te seduzir
Me dizendo que vale a pena tentar
Continuar a te desenhar
Ar afora, com a fumaça a te levar
Realidade que não posso alcançar

Mas minha alma de Musa-Poeta
Desfila chorando pela via
As lágrimas que ora me cegam
Me farão escorregar
Para noites não desejadas
Metades de um todo trocadas

E já não posso mesmo enxergar
Que a dor atual e presente
É outro sonho emergente
Que me guiará de norte a sul
Onde voarei demais para chegar
Aos braços onde quero pousar

Lila

PRÉMIO LEMNISCATA


Queridos amigos,

Estou envaidecida e emocionada com o prêmio recebido
do meu amigo, Poeta talentoso, Whesley Fagliari – do Amigo da Sofia.
Este prêmio representa muito. É prova de amizade e
admiração. Obrigada Whesley – Amigo da Sofia –
Meu amigo.
Junto com o prêmio recebi também algumas tarefas que
Tentarei cumprir com zelo.
Lila