terça-feira, 28 de abril de 2009

Dia da Educação

"E eu gostaria, por fim, que nas escolas se ensinasse o horror absoluto à violência e às armas de qualquer tipo.
Quem sabe algum dia teremos uma Escola Superior da Paz, que se encarregará de falar sobre o horror das espadas e a beleza dos arados, a dor das lanças e o prazer das tesouras de podar.
Que as crianças aprendessem também sobre a natureza que está sendo destruída pelo lucro, e as lições do dinossauro que foi destruído por causa do seu projeto de crescimento, enquanto as lagartixas sobreviveram...
Que houvesse compaixão e esperança."

(Rubem Alves)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um Horizonte

Ainda que as ruas me pareçam
Harmoniosamente planejadas
Docemente implantadas
Nos portais desse Horizonte.
Ainda que as casas me pareçam
Desenhadas uma a uma
Com bom gosto arquitetadas
A templos equiparadas
E humildemente habitadas
Por famílias do bem.
Ainda que os jardins me pareçam
Em constante primavera
E no ar o cheiro das manhãs
Vindas das noites de chuva
Façam dessa cidade
Uma sucursal do céu na terra.
Ainda assim
Não é possível
Que faça dessa, a minha casa.
Daqui não sou.
De muito longe tenho vindo
De muito além dessas montanhas
Em umbrais iluminados
Por fontes desconhecidas
Lindos jogos de luz intensa.
E, muito além de toda a beleza
Que seduz sem distinção
Muito além da poesia
E muito perto da perfeição
Existe um Horizonte

Ainda mais Belo
Que é o meu,

Que é o seu
Que é o nosso lar.

Lila

domingo, 26 de abril de 2009

Tormenta


Não me arranque
Não me dizime
Como erva extraída do chão
Pela raiz
E posta ao sol para secar
Não me mostre (não me interessa)
O ninho úmido e frio
Que a solidão cuida
Como se filho único fosse
Pois que tenho estado sóbria
De tudo que me afasta
Dos valores
Que construí
E falo de amor sim
Não só do carnal
Mas principalmente do outro
Que tem sido o elo permanente
Que me mantém presa
Ao fluído vital
E é assim
Que encontro a sorte
E driblo a morte
Subindo, degrau por degrau
A íngreme, porém doce
Escada da minha vida

Lila

sábado, 25 de abril de 2009

1 Minuto

Agora o silêncio tomou posse
Dos meus sentidos
É uma maneira meio absurda
De ver as coisas
Outra ótica, outro ângulo
Cresci. Não havia outra opção
Se nado com suas nadadeiras
Aquelas com as quais você sonha
E vôo com suas asas
Aquelas que você tenta esconder
E faço minha as suas palavras
Aquelas que até você se recusa
Pronunciar
É que em ti, tento me ver refletida
Como num espelho antigo
Estragado
Que me deixa ver apenas
Pequenos pedaços de mim
Numa espécie de mosaico
Arcaico
Não sou mesmo
Dona de mim
E de soslaio
Vejo suas portas se abrindo
É tudo tão louco.
Acho que enlouqueci
Mas, pensando bem
Nunca fui tão normal assim
A minha ótica é vesga
O meu ângulo não enquadra
E a minha realidade é absurda
Como sempre e sempre foi
A lógica daqueles que sonham
E nunca curtem o seu tempo
Não vivem os seus momentos
Apenas sonham
E sonham
Utopias
Mas existe uma realidade
Paralela
Que me bate à porta
Me chamando pra sair
E saio
E como humanos ando nas ruas
E como normal passo despercebida
E outros seres semelhantes me olham
Desnudando-me a inteligência
Mas somente eu
Só eu conheço
O monstro insano

Nascido da realidade ambígua
Que dorme dentro de mim


Lila

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Canção


Não importa que eu fale
A língua, o dialeto
De um jeito não aceitos
Pelo senso comum.
Não importa que eu ouça
Antigas canções de entristecer
Que eu esteja demodê
E não corresponda, portanto
Ao seu jeito moderno de ser
E não importa se frequento
Lugares aonde ninguém vai
Ou se ando em disparada
Sempre pela contramão
Não importa se me visto
De maneira não graciosa
E se meus versos
Te fazem doer o espírito
Não importa
Se me engasgo
na fumaça do meu cigarro
Se me mato a cada dia
Como um anjo suicida
Não importa
Nada importa
Eu te amo
Mesmo assim
Lila

Homem Menino

Na manhã
abro os olhos
pra vida.
E a flor
é meu guia
pela vida
inteirinha.
Na tarde
a flor
no caule
o espinho.
Passo homem
passo menino.
E a flor
me enfeita
o caminho.
Na Noite
a lua
no vento
o tempo que voa
E já não passo
De menino homem.
Olho em volta
e vejo tanto
e esse tanto
tão pouco tem sido.
E a flor presente
no tempo
me envolve
e vejo que esse
não foi perdido
Pois sempre me sinto
Um homem menino.

Lila

Para o meu homem. Para o meu menino. Para o meu filho - homem menino.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Minha Inspiração


É tarde
mas eu digo
este último verso.
Em teu ouvido
é a última inscrição
que o sono permite
na folha de silêncio.
Depois portas e janelas se fecham
e nem sei se verei
a flor vermelha e imensa da manhã...
Que importa?
A grande alegria,
a toda poesia,
é sua lembrança,
nascente ainda,
que já sei e posso
adormecer
colo do peito!
Mas,
Se a manhã se abrir de novo,
e ao lado o seu corpo,
quente e calmo
me sorrir...
O meu verso sem sentido,
a matéria será.
E terei visto nascida,
desabrochada,
a rosa da minha vida.
*******************************************
Ed,
te dedico esse poema com muito carinho.
Você. Doce e tímido poeta.
Agradeço a Deus a sua presença, discreta e constante.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Sentido

Te encontrei
E minh’alma foi mar profundo
Revolto
Que provocou ondas
Na sua praia
Até então
Deserta de mim.
Te encantei
Como sereia sem sonhos
Sem eira ou beira
Que por força da natureza
Te pareceu mutante.
Absurdamente só
Segui até aqui
Irremediavelmente só
Continuarei então
Te deixando caminho afora
Como rastro planejado
E a solidão que sempre foi
O meu castigo
Por não haver merecido
A sua destra vazia
Me acompanhará
Pois não há – isso lamento
Nesse espaço
Um lugar sequer
Absolutamente seguro
Que me possa manter aqui.
E cumprindo a promessa
Rasgarei o seu papiro
Que pode ser entendido
Como minha sentença de morte
E, depois de tudo,
Cumprida a última etapa
De tornar desnuda
Sua alma
Poderás então reciclar
O que restar de mim

Lila



domingo, 19 de abril de 2009

Cléo insiste...



Amarrada e amordaçada, jogada num canto qualquer, Cléo foi esquecida...
Maria Helena se arruma para sair.
Na frente do espelho avalia a roupa sóbria que escolheu. Cabelos presos num coque, maquiagem discreta. Óculos. Está tudo dentro da normalidade.
No trânsito, suas pernas vão e vêm, sobem e descem. Intercalam a frenagem e a aceleração com a delicadeza que lhe é peculiar. O tempo é curto mas a distância é pequena - vai dar tudo certo. Cléo não existe mais.
Maria Helena não a permite mais.
Sinal vermelho, ela pára graciosamente.
Olha no retrovisor interno para conferir os fios de cabelo que insistem em lhe escorregar pela face. Observa a si mesma. Não há tempo para outras preocupações agora, ela pensa. É preciso seguir.
Mas alguma coisa a prende ao espelho. É o seu olhar.
Seu coração dispara e Cléo lhe salta garganta afora, num grito mudo de desejo realizado, completamente fora do seu controle.
Lá está ela.
Elas conversam entre si? É possível.
Se entendem? Não sei, mas acredito que no mínimo um acordo de damas precisa existir.
Se coexistem, ocupam o mesmo espaço, algumas regras são naturais. Cléo é o id, a parte corajosa de Maria Helena.
Abre-se o sinal.
Quem acelera já não é mais Maria Helena.
Cléo assume a direção.
Ajeita novamente os espelhos, solta os cabelos, joga os óculos no banco. Levanta a saia, Maria Helena é séria demais. Atrás do banco estão seus sapatos preferidos. Joga os que Maria Helena escolheu pela janela e calça outros mais elegantes. Maria Helena é cafona demais. Abre mais um botão da blusa, deixando entrever seu colo alvo coroado por uma corrente que brilha à luz da lua. Muda a maquiagem. O batom agora é vermelho. Seus olhos brilham e sua boca tem um meio sorriso de joça.
A noite promete e ela segue avenida afora.
Vai dançar, rodopiar entre a nuvem de fumaça e cor.
Os planos de Maria Helena foram sabotados. Cléo tem outros mais eficientes, mais modernos e funcionais.
Cléo quebra todos os padrões de comportamento que Maria Helena criou para ambas.
Sente-se bonita e amada. Mulher realizada.
Maria Helena agora, não é paradígma confiável.
É a vida delas. Elas são assim. Se revezam no cotidiano.
Onde uma está, não há lugar para a outra.
Não importa o preço que Maria Helena tenha que pagar pelas atitudes de Cléo.
Agora, quem adormece esquecida é ela.

Lila

Dia de Cléo


Maria Helena se prepara para mais uma batalha. Sabe que é preciso enfrentar a vida e o preço exato de suas escolhas.
Ultimamente urge que se mate uma serpente todos os dias.
A rotina talvez seja a sua maior dificuldade.
É tudo sempre tão igual...Frutos vermelhos e maduros caem pelo chão sob o impacto do vento. Flores molhadas enfeitam seu quintal e são sempre observadas com carinho.
É calma, paciente. Não adianta apavorar, são cuidados do seu ofício.
No rosto, um sorriso franco e constante. Ela está feliz? Nem tanto assim.
São tantas coisas... Tantas preocupações...
Jornada de trabalhadora e mãe. Amigos a zelar, afazeres do lar.

Enquanto isso, Cléo adormece em leito confortável. Cansada e satisfeita.
Ela não se preocupa se é preciso ganhar a vida, labutar pelo pão.
Na sua cabeça, isso são coisas secundárias e ela entende que na pirâmide de Maslow, essas serão certamente suas necessidades alocadas nos degraus mais altos, sendo portanto, menos importantes. Suas urgências, suas prioridades, são outras... É como se tivesse uma escala de valores, totalmente invertida.
Se vem do Egito, ou de qualquer outra parte do mundo, sua vestimenta precisa ser de seda.

Maria Helena conhece a personalidade de Cléo, luta insistentemente contra ela.
Está aborrecida com seu comportamento da noite anterior. Seu corpo ainda possui os sinais das extravagâncias de Cléo.
Enquanto a primeira trabalha duramente, a segunda viaja do Nilo a Las Vegas em questão de segundos.Às margens do Nilo, ela recobra suas forças, alimenta sua vaidade. Em Las Vegas satisfaz sua volúpia.
Aposta tudo. Não há o medo de perder.

Mas hoje existe sinais de amor no ar da vida de ambas. Sinais discretos, quase imperceptíveis, captados pelas duas.
Uma está ansiosa, a outra reticente.
É chegada a hora de amar... E, nesse ponto, a distância entre elas é tênue.
Não importa que traje esteja usando, ele sempre a considera linda.
Mesmo quando está despenteada, amarrotada, ou coisa parecida.
Se são duas em uma. Suprem e suprimem os desejos, numa desordem absoluta, onde prevalecerá quem possuir melhor argumento.

Ele tem um poder inexplicável de reconhecer à distância, qual das duas virá recebê-lo.
- Como podem coexistir de maneira tão harmoniosa? Pensa ele...
Sabe que o olhar dela ou delas, pode levá-lo a lugares inimagináveis - é isso que o atrai - a surpresa.
Viajante que tem sido, reconhece nessa mulher uma diferença.
Não melhor nem pior, é apenas diferente.
Estuda seu comportamento. Tenta descobrir o quê a faz ser assim .
O porquê do seu amor fugaz e urgente num momento e sua frieza polar no seguinte...
A sua presença discreta e carinhosa e o seu desprezo absoluto...
O riso alegre e em seguida o choro compulsivo.
Ela é louca? Pensa ele.
Não, não é. É sensível e inteligente.
Não seria essa a sua marca?
Não seria a sua facilidade em se valer do cérebro ou do corpo, de acordo com a conveniência do momento?
Ele pergunta: - Quer beber ou amar?
Sem pestanejar ela responde: - As duas coisas. Eu posso?
Não é possível resistir.
Qualquer plano que tenha sido traçado, é imediatamente corrompido.
Essa nuance da sua personalidade o enlouquece.
A bebida não é tão importante. O efeito é sempre o mesmo:Trás Cléo de volta.
E ela reina absoluta.
Como se rainha, nunca houvesse deixado de ser.
E isso é tudo que ele quer...

**************
Essa é uma estorinha da Cléo - personagem vinda da minha fantasia. A outra, a Maria Helena, foi criada por um amigo - o poeta Joeldo Holanda. Cléo é aventureira e Maria Helena é a executiva, a séria. Ambas habitam um mesmo corpo, e Cléo, sempre que pode, sabota os planos de Maria Helena.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Para um Amigo

Perfure a sua veia poética
E deixe-a sangrar
Mas que não chegue à exaustão
Que sangre apenas
O suficiente
Para que possas me dizer
O quanto sou
Para você
Esqueça por um tempo
A sua engenharia
Os seus cálculos
E a sua lógica
E seja apenas
E tão somente
O poeta
Que me viu em noite de lua
Quando o vento sem vergonha
Desmanchou meu penteado
E as estrelas se confundiram
Com o meu sorriso
E bobo, diante do sentido
Da simplicidade
Lamentou não ser poeta
E mesmo que eu não entenda
Uma só palavra
Olhar-te assim
Sorrindo para mim
Por si só
Já tem sido
Um poema

Lila

Mauro

A vida passa
Enquanto eu penso
Calculo
Multiplico
Divido
E não chego a um resultado
Razoável
Passo o tempo
Perco o tempo
Que me engana
Passo
E, muitas vezes,
Fico
E a sua lógica
Me convence
Que tudo está
No seu devido lugar
Se choro
Você diz:
Besteira!
Se rio
Você diz:
Que lindo!
E da fotografia
Exposta na vitrine
Você diz:
Você é muito mais que isso!
E te ouvindo
Deduzo
Não sou forte
Muito menos
Frágil

Lila

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Primeiro Amor


É noite do primeiro amor
Doce visão do meu leito
Estrelas descem. Se misturam, teto e chão
Não há muito além das paredes,
que ora transparentes são.

É noite do primeiro amor
Ao fundo uma canção.
Novos cheiros, novas cores.
Olhares se cruzam. Urgência e desespero
Falam-se. Entendem. Sem palavras

É noite do primeiro amor
Coroação do êxito, da conquista.
Amor concebido em alto custo
Onde valeu a pena, cada minuto da espera.

É a nossa noite, meu amor.
Lá fora o tempo urge, a vida passa,
No solo, a chuva cai numa cantiga ritmada.
No meu colo, a vida levanta renovada.

Nossas diferenças já não importam
As forças se equiparam
Estamos quites
E somos dessa vez, iguais.

Lila.
escrito em 10/dez/08

domingo, 12 de abril de 2009

O Terceiro Ser

Não hão mesmo de me explicar ou definir.
Pois que sou a Lua de Eva na tez da Musa
e o Sol de Adão na definição do Poeta.
Na manhã existe um riso no meu riso e na tarde,
adormeço sob árvores fora do chão.
E, quando a noite se aconchega, uma lira se subjuga a mim
num eterno encanto que não se quebrará jamais.
E quando, um dia, alguém unido a mim por um laço de amor
vindo das mãos de uma criança,
loura como os anjos que me visitam – me decifrar...
Então já não serei mais eu –
pois haverei de ter perdido a essência que me tornou uma espécie marginal.
Sinto que posso ser o Ser que une metades perdidas –
o nó e o elo.
A ofensa e o perdão.
E assim, permanecerei estática
e absurdamente operante,
até que a profecia se cumpra.
Pois sou o reflexo do amor em sua plenitude

E, esse outro Ser – a minha outra metade,
que ousará me definir
com o mais completo e satisfatório jogo de verbos,
não mais me encontrará a mim – que ainda nada sou,
mas terá encontrado a si mesmo.
E, dentro desse poço que tem sido o acumulado dos nossos dias, seremos então um só –
um terceiro Ser Perfeito que não mais caberá aqui...
Será livre e voará em espaço aberto,
Gotejando luz.


Lila

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Rotina

No criado nem tão mudo
A foto no porta retrato
Sorri para mim
Por onde vou
Esse olhar me acompanha
E a passos largos pelo corredor
A deixo sempre para trás
E lamenta em silêncio
A minha ida
Perco a condução
Ando atrasada demais
Já não te dou mais o tempo
Do silêncio
Onde fitava seus olhos azuis
Que dispensavam a retórica
Me dizendo sempre o tudo
Que precisava ouvir
Não me entendas diferente
Do que tenho sido
O tempo urge
Sempre contra mim
Vinte e quatro horas!
Se o tempo, tão relativo
Corre e pára quando quer
Mas voltarei para você, quando puder
E no ombro da cadeira
Quero a camisa branca
Com a marca do meu beijo
E essa vida agitada
Que não nos tem dado tempo pra nada
Irá fazer uma parada
Num porto, há tanto só nosso
E da janela hoje fechada
Veremos de novo em silêncio
O pôr do Sol no nosso horizonte.


Lila

domingo, 5 de abril de 2009

Equidade?

Encosto num canto a vassoura
Que em minhas mãos treme
Como se fosse capaz de voar
Se eu não houvesse
Perdido as aulas de treino

E olho novamente pela janela
Agora já não só com meus olhos humanos
Tento enxergar coisas que vão além disso
O andar que oculta o mistério da ida
Sem a certeza da volta

O homem carrega o peso
Que talvez um animal suportaria
A mulher engana o estômago
Que reclama por não mais aguentar
A mentira que ouvirá, a cada vez que reclamar.

Enquanto isso
Aqui nas bandas do luxo
Joga-se fora, todos os dias.
Muito mais do que o suficiente
Para que eles possam viver

Tudo é contraste
Choque de realidades distintas
Mãos feridas de calos, mãos que se ferem de tão finas.
E na minha consciência do certo,
Isso é dor por demais doída

Faço uma comparação
Do sonho e da realidade
Do que se apregoa
E do que se realiza na prática
Ambos estão confusos

E o meu conceito de coerência
De caridade e amor
Onde ficou?
Onde foi exatamente, que o perdi?
Eu não sei...

E a imagem que vejo da janela
Torna-se um reflexo de mim
Linda e saudável por fora
Mas apodrecendo por dentro
Pelos efeitos nocivos, que me causam a omissão.

E já não me agrada mais o que vejo.
Cada dia diferente.
Mutante, como são os sonhos.
E a miséria me incomoda
A falta do básico me destrói

Essa impotência me faz sonhar muito mais
Sonhos já não tão possíveis
Quase utópicos até
Com um Estado mais justo
Onde todas as esferas cumpram seu papel

Onde equidade, a famosa justa medida
Não seja apenas,
Uma bonita palavra
E vale lembrar, Sr. Estado
Que eu conheço os seus caminhos

Conheço sua tendência doentia
Em bancar o Robin Hood ao contrário
E socorrer a banda do luxo
E deixar a outra, a do lixo
Morrer de inanição

Esquecida, como tudo o que incomoda deve ser.
Deixando propositadamente
Que homens e animais se misturem aos restos
E que sobrevivam
Que driblem sua fome e sua doença, se puderem...

Lila

Ainda Bem...



Ainda bem que fiz da vida
Uma estrada de uma mão só
Posso seguir
Não posso voltar

Ainda bem que semeei grãos
Que germinaram
E quando olho para trás
Vejo flores
Vejo frutos

Ainda bem que fui capaz de sonhar
Sonhos possíveis
E quando olho à minha frente
Os vejo descortinar
Um a um, grandes exemplos

Ainda bem que cumpri obrigações
Segui orientações
Respeitei a lei
Sonhei sonhos lícitos
E fui capaz de amar

Ainda bem que me dei chances
De sempre construir
Mesmo quando a razão me dizia:
- Destrua!
Ainda bem que foi assim...
Lila