domingo, 20 de dezembro de 2009

Só...

Sinta-se só com a noite
Quando ao seu lado
Um papel esperar a escrita
Sinta-se só com o adeus que não foi forjado
Apenas aconteceu...

Sinta-se só como a gameleira
Que de tão frondosa
Chega a assustar
Mas continua solitária
Assistindo o mundo girar...

Sinta-se só por sua escolha
Não me culpe
Tampouco me julgue
Apenas me assista te virando as costas
E indo embora...

Sinta-se só, apenas
Como tantas vezes me senti também
E outros beijos, outros braços
Poderão até te consolar
Estou indo embora...


Lila

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Natal, hipocrisia coletiva.

Semente leve... até voa...
Tão leve, quase transparente...
Mas em sua tamanha fragilidade
Brotará certamente em lugar inesperado
E fincará raízes que irão sustentar árvore frondosa!


É chegado o Natal. Novamente se instala a hipocrisia coletiva. Pessoas circulam em frenesi pelos shoppings, lojas, ruas. O trânsito caótico. A chuva completa o cenário. Mas, afinal, o que é o Natal? Não seria o aniversário do Cristo?
E é.

Imagino então, o Cristo a comemorar o próprio aniversário. Como Ele agiria em pleno século XXI? Seria um gastador compulsivo? Correria atrás de todas as vaidades e seria cada vez mais vazio? Não, sei que não: Ele é humildade suprema. Caridade Absoluta. Amor incondicional.
Dentro desta visão sinto-me cada vez mais o “peixe fora d’água”, a “borboleta no aquário”, como diria Humberto.
Às favas com o Natal, show monetário! Com o movimento instalado, como se o mundo, insistentemente, fosse “acabar” no dia 25 de dezembro.
Não vai!
A vida vai continuar. E o que é pior... Com a realidade crua de se encontrar, logo depois da “festança”, sobre as mesas, dentro de gavetas, amontoados de faturas, dívidas contraídas na maioria das vezes, sem necessidade, que estarão à espera de liquidação... dane-se, pague... e que seu espírito permaneça tranqüilo!
Ainda hoje pude ver um senhor descarregando seu “lixo” na caçamba: caixas e mais caixas, embalagens de bens duráveis, adquiridos, com certeza, nessa época e provavelmente a prazo.
O consumismo coletivo até pode ser explicado pela injeção de capital que o 13º salário provoca na economia. Mas, “detonar” tudo, tendo como desculpa o Natal, é exatamente o que o comércio induz, prenuncia e espera.
É o que, certamente, o Cristo não faria questão...
A cultura, o senso comum de que no Natal, as forças “financeiras” devem e precisam ser levadas à exaustão é uma ciranda e não pode parar, mas, é exatamente aí onde “mora” o perigo.
Não seria a hora, agora, de seguir o exemplo Dele?
HUMILDADE! Esse deveria ser o tópico de consumo para se ter reservas para o que nos vem pela frente!
Olhar para o futuro próximo. É possível prever toda sorte de compromissos financeiros que virão junto com o novo ano.
E aí?
Será que os abusos conscientes da véspera do natal serão lembrados?
E a estória se repete, ano a ano:
Janeiros, fevereiros, marços...
Sufoco financeiro!
E o Cristo? Onde esteve?
Provavelmente esteve por aí, entre os menos afortunados, entre os que tinham em suas casas, apenas e tão somente o pão.

Fica aqui a proposta, então: convidemos o Cristo para passar o aniversário Dele na nossa casa. Não precisa muito. Ele não “repara”. Sirvamos o que possuirmos, se possuirmos. Só de abrirmos a porta para Ele, já O faz feliz... talvez seja esse o melhor aniversário DELE!
Pensemos nisso. Consumamos sim. Mas só o que for realmente necessário.
Vale lembrar que Ele foi o melhor professor de todos os tempos: Economia, bom-senso, espiritualidade... matérias pré-requisitos umas das outras... comecemos por aprender a humildade...
Ser humilde é uma “matéria” difícil, mas o resultado pode ser surpreendente! Ele, Cristo, pode nos dar nota 10.

LilaGomes

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Saudade

Ainda beijo seu beijo.
Rio seu riso.
Ouço a respiração,
Entrecortada, vejo o desejo...
Que é o todo que possuo – limitada que sou.
Sigo aplaudindo de pé.
Depois da cortina fechada.
Quando todos já se foram...
Ainda o sinto, e como sinto,
Nessa membrana doce que envolve o sonho,
Mesclado de tantas cores,
Velado por tantas luzes.
E a paisagem que outrora nos encantou,
Permanece a mesma,
Enquanto sou desencanto.
Só essa sua presença...
Que de tão doce,
Chega a escorrer em mim...
Possuindo-me completamente...
Regendo-me a vida,

Como se orquestra fosse.

por Lila Gomes 10/12/09 22:28 hrs

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Não posso explicar... mas posso sentir.

Leia-me assim como a um verso
Como hoje o fez – sentindo-me triste
Conheça minhas nuances
Sem que eu as descreva

Leia-me em meus tropeços
E veja-me como Dona de tudo e detentora do nada
E entenda-me ébria
E ame-me sóbria

Faça em mim sua leitura
Como ao livro aberto e exposto
No qual não há entrelinhas
Apenas toda e toda sensatez

Sinta-me distante, quase ausente
Quando deveras eu esteja
Seja sucinto ao resumir-me
Como tens feito, sem que eu o peça

Ame-me como a natureza permitir
Complete-me como sabes que preciso
E deixe-me viver sob o engasgo da lágrima
Que teimarei em suprimir

Por Lila Gomes
07/12/09 - 22:12 hrs

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Meu Barco

Não me deixes à guisa
Desse mar revolto
Que tem sido o meu desejo de ti
Tampouco me transforme em menos
Do que já tenho sido
Se perdido estou, a culpa é sua
Se sou barco à deriva
Foi pelo seu mar que me tornei assim
E se o vento do leste
Me leva como folha à perdição
Desse seu peito que pulsa
E me enlouquece de vez
Ah,
Já nem sei mais quem sou
Sou eu, sou você
Sou nós.
Se viajo do Nilo ao Morto
Se encontro o continente perdido
Dentro desse seu olhar de lua
Se sou pirata nesse seu mar aberto
Se sou palhaço nesse seu picadeiro
Se sou presa nessas suas garras
É só meu desejo em chamas
Que estacionado está, no degrau mais baixo
Das minhas necessidades
É esse desejo que me destrói
Para posterior reconstrução
Que me chama à sombra
Do que tu tens sido em mim


Lila Gomes
Para o morador do meu peito

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Palavras Tortas?

Num tempo certo
Demarcado na consciência
Me sobem pelo corpo
Palavras tortas.
Sem nexo.
Me perco nelas,
Elas se perdem
em mim.
E sobre minha cabeça
Se juntam
E tudo é só poesia
E tudo faz sentido
E nada faz sentido
Se me encontro onde me perdi
E me perco onde me encontrei
Sou poesia de fato
Pobre e sem rima
Nada importa
É completa a ausência de sonhos
Pois que tudo já é
E só é
REALIDADE


Lila Gomes
Para Moisés, com muito carinho...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Preconceito

Se em ti já não sou
Talento
E meu dom já não é
Divino
Sou então agora
Desejo suprimido
Sacrifício
Flagelo
Porta que se abre ao nada
Um fruto nascido

Do seu preconceito ridículo!

Lila

Muito mais...

Palavras ao riso
Que abre portas
É paraíso!
Pedaço de alguém
Cálido extremo
Úmido!
Perco o juízo
Já escasso
Mergulho pra sempre
Nesse seu riso
Que me cala,
Me convence
Que a vida é muito
Muito mais que isso!


Lila

domingo, 21 de junho de 2009

Perfeito

Minha pele
E a sua
Contraste
Cor
Textura
Temperatura
Divergência
Convergência
Perfeição!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Arco íris

Percebo que meus sonhos são justos,
E que por muito pouco,
Não se realizam,
Presos que estão,
Na teia dessa mentira.

O contratempo, o pouco tempo
Me levam pra longe de mim
Danço fora do compasso
Mas permaneço no páreo
Entre soluços que me escapam assim

Mas a gestação se completa a termo
Deixando emergir o ser multifacetado
Que é meu desejo de ti
E meu ventre, deixo ao Sol exposto
E vão gerar novamente...

Outros sonhos, muitos seres, todas as cores
Do arco íris que sou.


Lila

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ao amor, Poetinha...

Não me basta o fogo
Quero a fogueira inteira
Seu amor não é

Uma brincadeira

Se desejo não desejar
E não desejando, sou só desejo
Me encontro, me perco
Sendo assim, te mereço

E merecendo, eu tenho
O fogo e a fogueira
Seu amor é o prêmio
Que coroa meu desejo.


Lila

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Ao Namorado...

Ah,como eu quero
Ser um com você
Sou anjo de uma só asa
Preciso de ti para voar

Ah, como eu quero
Prometo, espero, reitero
Realizar coisas tão simples
Viver contigo o dia a dia

Ah, como eu quero
O passo seguinte, um novo começo
Plena aceitação do que somos
Fazer cumprir em nós a promessa

Ah, como eu quero
Aparar as arestas, lacrar as frestas
Descer ou subir, não importa
Contigo estar num nível só

Ah, como eu quero
Ser mais acessível, me abrir sem reservas
E ser menos diferente e muito mais real
E não esconder a minha destra

Ah, como eu quero
Nessa declaração tão simples de amor
Poder ser mais transparente
Te deixando me ver como sou

Então, meu amor,
Entre o querer e o poder,
Prefiro te dar mais um beijo
Tão cheio de desejo
E esperar que a vida
Se encarregue do resto


Lila

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Surpresa

Que aportem navios
No mar calmo do meu sentimento.
E desembarquem os sonhos,
Insanos trocadores,
Dos dias pelas noites,
Enluaradas e frias,
Do junho corrente.
E que não chova,
Para não molhar seu olhar,
Que é farol que me guia,
Mesmo quando estou tempestade.
E a surpresa ainda gestação do meu ventre,
Esse todo movimento,
Não me permitia fazer nascer.
Aquele meu sonho frustrado,
que tanto tempo foi náufrago,
finalmente consegue emergir.
E posso ler em seus lábios,
O poema constante e doce,
No qual se transforma a pequena frase,
“Minha Querida”...

Lila

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Vício

És de mim, ainda,
A melhor parte.
O verso estruturado,
Produto bem acabado.

Sou de ti, somente,
Arco íris desbotado.
Pelo seu olhar, ofuscado,
Um riso mal formatado.

Amo-te, sou complacente
Se me entendes leviana.
E às ofensas, faço-me surda.
És um vício que me faz doente.


Lila

terça-feira, 2 de junho de 2009

Cidade Felicidade

O tempo nos promete
Dias melhores
Que nunca virão
Meu riso é falso
Meu olhar semi cerrado
Mente para mim
Por trás das lentes
Fala-te sem palavras
Que pouco tempo livre
É o que tenho tido
Mera desculpa
E o vento que corre em disparada
Entre as mesas do terraço
Balançando a palmeira solitária
Observa que somos
Vidas tentando se equilibrar
Na corda bamba da mentira
Que agoniza no frio da noite.
E saio de ti da mesma forma
Que entrei.
Bailarina rodopiando
Em palco cuidadosamente montado
Suspenso no ar, sem violinos
E só lamento
Que nessa sua cidade
Que inocente batizei
De felicidade
Eu tenha tido apenas
Um breve visto
De turista


Lila

quinta-feira, 28 de maio de 2009

VINHO

A taça que transborda
Deixando escorrer pela sua mão
O líquido carmim
É a memória do não e do sim
Do sim fantasiado de não

E a sedução é só isso
É o convite sem pretensão explícita
É malvadeza da alma
Que transforma em algoz
O verbo que ousamos conjugar

Não cuido eu do que peço
Pois que tenho sido simples de sonhos
E a felicidade não sendo o destino
Mas o simples caminho, me diz:
Não preciso de muito para ser feliz

E o brinde levantado, quando ainda se está sóbrio
É só um copo tremulando no ar
Não traduzindo o que se pensa de fato
Pois os olhares e todos os gestos
Dirão no silêncio: - Não preciso falar

Lila

Este texto foi escrito em 27/05/2009, às 23:00hrs, sob provocação do meu amigo Roberto

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Desejo

Seu toque é sensualidade pura
Desejo que não cabe em si
Transborda carícias que me levam além
Muito além do limite
Onde previ chegar
Deixo então cair a máscara
Que me manteve distante
Pra te entregar
Até mesmo
O que desconhecia possuir

E meu desejo
Antes dividido em blocos
Espalhados pelos cantos do meu sentimento
Juntam-se de uma só vez
Cegando, emudecendo, castigando
Todos os tabus que insisti em manter
E assim estou em ti
Como tu tens estado em mim
Reescrevendo uma estória
De imprevisível fim


Lila

domingo, 17 de maio de 2009

Sonho de Hoje

Adormeci
Fora de hora
Tive um sonho
Que não foi pesadelo
Num escritório eu queria
Dar-te um poema
Mas o pc estava
Estragado
Pulei a janela
Sob a chuva
Pra ir ao prédio vizinho
Olhei para trás
E vi você tentando
Vir atrás de mim
Todo enrolado
Nos fios do teclado
Subi muitas escadas
Acabei caindo
De costas
Estatelei-me ao chão
Desmaiei
Quando abri os olhos
Estava ainda deitada
Num imenso salão
Que tinha nas paredes claras
Magníficos labirintos
Desenhados
Alguém me abraçou
Me beijou
Camisa azul clara
Gravata
Nessa hora tive certeza
Eu havia morrido
E estava no céu
Nos braços de um anjo
Que sonho lindo...

Lila

Portal

O inverno já tinha ido.
Há muito se despedido.
Mas,
Naquela noite,
Era frio que eu sentia.
Extremidades arroxeadas,
Tiritante eu me consumia.
Numa mistura de concreto e flores,
A folhagem se debatia,
No vento que insistia.
Levantei meu olhar,
A uma altura,
Muito superior à minha.
Vi um riso,
Que se abria.
E naquele abraço quente,
Havia tanta poesia...
E ali, fiquei eu,
Num tempo que já não contava,
Lógica que não existia.
Diferença que no fim,
Se ajustaria.
Futuro que à minha porta batia.
Naquele portal,
Ainda permaneçerei.
Por mais um tempo,
De lá, não sairei.
E não há como não ser assim,
Naquela noite,
Fizestes seu escravo,
Um pedacinho de mim.
Lila

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Estação

Muda
O tempo
O vento vira
A direção
Parada
Para pensar

E como pássaro
Deixar migrar
Os sonhos
Para outras paragens
Noutras viagens
Que não sejam
A um porto só
Há tantos braços
Tantos abraços
Desviar a mentira
Ilusão
Construir
Uma verdade
Que não seja
Relativa
Que esclareça
A cabeça erguida
Pela ausência
De sentimentos
Inferiores
E receber da vida
Beijo assoprado
E não ser mesmo
Igual
Olhar
Enxergar
Como permitem
Olhos humanos
Sentir
Harmonia
Com o sagrado
Direito
Existir
Como nova estação


Lila

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Louca

Meu órgão vermelho
Representante do amor
Anda descompassado
Complacente
Nada resiliente
Doente
Não tenho horários
Prazos ou medidas
Mas sonhos que são mutantes
Não conjugo o verbo ter
Do materialismo
E prefiro a vida
Marginal
Meu cão me diz bom dia
Respondo au au
E que digam
Que eu me perdi
Enlouqueci
E te dei um poema
Quando já não mais
Valia a pena
Que sobre meu dedo
Indicador da mão direita
Existe um hematoma
Que eu não me lembro
De onde veio
E que sou eu a pedra
Do meu próprio caminho
E que busco as cores
Da aquarela do louco
Para pintar com elas
O meu destino.


Lila

domingo, 10 de maio de 2009

Você

Como é linda a vida
Quando me vens
Com esse amor doce
A forma da minha medida
Como é linda sua fala em versos
Pausados, compassados
Dono dos grandes olhos negros
E a tez queimada do Sol
Nas mãos muitas marcas
Labuta que me excita
Um cheiro de luta vencida
Candeia que me alumia

Seu riso se abre em pérolas
Contraste que me enlouquece
És deus descido do olimpo
Desejo que não posso conter
E mesmo que eu negue
Que teime, que desespere
Sou sua e isso é fato
Carinhosamente consumado
Camisa sempre branca,
Calça jeans bem ajustada
És meu bem, não tem jeito
As duas faces da minha moeda

És meu amor,
Minha paixão pura
Ardência que me queima
E nunca me machuca
O poeta que justifica
Os dias que respiro musa

sábado, 9 de maio de 2009

Mamãe


Sou agora impotente
Mas ainda muito importante
Para você
Mesmo quando chorando
Percebo que não consegues mais
Se lembrar quem sou
Mas vejo no seu olhar
Que sua alma me reconhece
E sou sua Lila
Com orgulho
Apelido que tão docemente
Me destes.
A sua terceira filha.
Ontem, um amigo
Percebeu que meus olhos são claros
Como os seus
Pensei então em você com ternura
No quanto eu te amo
E nas quantas vezes mais
Eu te direi isso
Mamãe
Reconheço as limitações impostas
Pelo seu sofrimento
Pela sua perda
Que é tão nossa também
Mas ainda somos
Sete mulheres
Seis fortalezas
Que você construiu
Somos felizes demais
Se te faltou um bem tão caro
Te fazendo adoecer
Creia mãezinha
Todas nós morremos também um pouquinho.
Mas isso são coisas da vida
Inevitáveis
E mesmo agora
Quando não mais podes me ler
Eu te direi isso tudo
Baixinho no seu ouvido
E você vai sentir o quanto
EU AMO VOCÊ

Lila

Minha mãe tem Alzheimer

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Selvagem

São luzes
Um brilho úmido
Que vejo assim
Nesse seu olhar
Que me encanta
Sou criança
Nada sei
Eu só sei sentir
E ler no ar
O convite
E na pele ver nascer
O medo
O aviso do meu fim
Medo de me perder
E ainda assim me encontrar
E poder adormecer
Nos braços do desconhecido
E no dia seguinte
Ao me olhar no espelho
Me sentir feliz
Como nunca consegui ser
Medo por perceber
E poder tocar
A linha tão tênue
Que vem separar
Nossa sanidade
Da nossa loucura
E seguindo o instinto
Selvagem eu permito
Que alteres o curso
Desse meu rio
Que mudes o rumo
Dessa minha história
E que no final
Possas me dizer
Com todas as letras e verbos
Que eu nunca soube mesmo
O que fosse viver



Lila

Olhos Tristes

Era pra ser um adeus
Em forma de flor que murchava
Um amor que agonizava
E do seu olhar que lacrimejava
Ouvi frases mal planejadas
E entendi que me dizias
Ainda não era o fim...
Caminhei outros caminhos
Desviei da sua trilha
Desenhei outro destino
Derramei-te aos pouquinhos
Como lágrimas
E adormecestes
Sono profundo
Dentro de mim
Mas hoje ainda sussurras
No ouvido do vento
Que ainda não podes
De mim se esquecer
Quem sou eu
Poeta dos olhos tristes
Para contestar?
Se quando murmuras
Por mais baixinho que seja
Meu coração pode ouvir?


Lila

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Minha Fada, Minha Madrinha

Roda o mundo
Gira a roda
Gigante
Gira minha cabeça
Pensante
Roda a sua saia
Esvoaçante
Feita do tecido
Que seria meu vestido
Criança que sempre fui
Olho a janela
E vejo a vida
Correndo lá fora
Ausente me senti.
E quando você se foi
Eu não estava lá
Eu não estive lá
Já sinto saudade
Da sua presença
Mesmo estando do seu lado
No último tempo
Em que te posso ver
Envolvida nessa fantasia
De rainha
Que por tanto tempo usou
Ah, não lamento
Fostes em mim
Certeiro exemplo
E tudo foi tão lindo
Como seus cabelos negros
Longos
Que me acariciavam o rosto
Hoje tem festa no céu
Muitos anjos te esperam
Muitos outros aqui choram
E eu peço
Eu imploro
Que os anjos daqui
Silenciem
Sintam o vento que sopra
Sintam o beijo da fada
Da minha fada madrinha



Para minha madrinha Conceição que nos deixa nesse dia.

Lila

terça-feira, 5 de maio de 2009

Frank - Sinatra ou Stein?

Te ofereço um trago
No meu cigarro
E humanos
Mulambos
Vagamos nas ruas
Nos encostamos
Um no outro
Bebo um gole
Do seu rum
Nos perdemos na vida
Encontramos a saída
Boêmios ou não
Poetas e loucos
Somos dois trapos
Eu e você
Soltamos amarras
Da solidão
Voamos sem asas
Sobre a nuvem negra
Ameaça de temporal
Lá no alto
Vamos parar
E a cidade
Adormecerá
E que durmam os justos
Os injustos
Estamos muito acima
Do bem e do mal
Vendo de cima
Luzes que ninguem mais vê
Um brinde a você!
Doce caçador
Um brinde a você!
Idiota sonhador
Comemoremos a vida
Brindemos o encontro
Que nos trouxe um ao outro

Como vento do norte
Num golpe perfeito

da sorte!

Lila

Bruxa?

A bruxa
Varre sua tristeza com a vassoura
A mesma com que voa
Pelos céus de BH
A bruxa
Espera o celular tocar
E pela janela sai voando
pousando suavemente
Nos seus lençóis do inconsciente
A bruxa já não te enfeitiça
Te conquista
Elegante
De fada tem jeitinho
E na taça do seu vinho
Que reflete ainda, sobriedade
A precariedade da sua vontade
Do desejo não realizado
Que já não podes controlar
Ela então te desnuda
Seu desejo põe à prova
E o seu amor platônico
A verdade que não ousou contar
A bruxa te faz,
de novo sonhar
E não é boa
Tampouco é má
A bruxa,
Meu senhor
Semeador de paixões
É linda
É flor
É mulher.

Lila

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A contrapartida do poder de pensar

Quando meu caçula tinha 2 anos, perguntaram a ele o que queria ser quando crescesse. Sem titubear, ele respondeu: - Um chapo! (ele queria dizer “um sapo”).
Lila
"Detenho a supremacia sobre as demais espécies
Penso. Tenho raciocínio lógico
Posso. Escolho meu próprio caminho
Traço minha trilha. Ordeno
Decido quem é bom, ou ruim.
Quem deve morrer, ou viver.
E vejo nisso um dom.
Esqueço a responsabilidade,
A contrapartida do poder de pensar.
Que orgulho posso ter, em fazer parte dessa espécie?
Onde enquanto uns constroem, tantos outros destroem?
Não seria melhor ser um sapo ou um pássaro?
E viver cada um dos meus dias, como se único fosse?
Deixando a natureza seguir seu curso, sem precisar interferir?
Se evoluí de outras espécies ou se recebi um sopro nas narinas
E me fiz a criatura mais bela e mais perfeita de todas?
Sim, eu sou a mais bela das criaturas!
Mas me esqueci completamente, que não importa os séculos que se vão.
O poder certamente um dia, mudará de mãos!
Enquanto em mim somente pensei
Dos que me cercavam, não me lembrei.
Um monstro me tornei.
E assim arrogante, pensei que evoluía.
Insanamente eu me destruía
Agora urge que eu reconheça
Que isso nunca foi inteligência
Pois que de nada me valeu o pensar
Se nem mesmo a mim
Consegui preservar".


Texto escrito para cumprir a tarefa a mim delegada ao receber o Prémio Lemniscata, do blog do Whesly Fagliari – Amigo da Sofia.


Regras:


A) Expor o selo no blog;
B) Presentear outros sete blogs, de qualquer temática, com o referido prêmio e suas devidas regras;
C) Escrever um texto e publicar respondendo a seguinte pergunta:
O Que Significa Para Você Ser Um Homo Sapiens?

Publico agora alguns dos meus indicados, que são poetas que leio sempre e admiro muito:

1)
http://osnascimentosdaspalavras.blogspot.com/
2) http://coisasquevievivi.blogspot.com/
3) http://providentworldnews.blogspot.com/http://horushu.blogspot.com/
Lila

Justiça

Há um tempo certo
Para amar,
Para sofrer,
Para esquecer

E o alvo, com o tempo
É revestido pela indiferença
Que torna nula
Qualquer vaidade ou disputa

A mágoa provocada
Propositadamente implantada
No coração alheio
Também tem seu tempo de glória

E graças à sabedoria divina
Perece como tudo o mais que é vivo
E no abismo onde mora o desprezo
A mágoa dormirá vencida

E os corações magoados
As almas entristecidas
As vontades reprimidas
Curam-se no bálsamo da vida

E a dor causada
É investimento de curto prazo
Extremamente rentável
Que retorna líquido e certo

E do perdoado e esquecido
Surge o mais puro e refinado prazer
Emerge magnífico, o real sentido
Da palavra justiça

Lila

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Musapoeta

Meu coração de poeta
Chora a mágoa não digerida
Impotência estabelecida
Quando não posso mais reter
Meus sonhos que morrem vermelhos
Como sangue que tanto faz falta

Meu coração de musa
Convoca meu ser a te seduzir
Me dizendo que vale a pena tentar
Continuar a te desenhar
Ar afora, com a fumaça a te levar
Realidade que não posso alcançar

Mas minha alma de Musa-Poeta
Desfila chorando pela via
As lágrimas que ora me cegam
Me farão escorregar
Para noites não desejadas
Metades de um todo trocadas

E já não posso mesmo enxergar
Que a dor atual e presente
É outro sonho emergente
Que me guiará de norte a sul
Onde voarei demais para chegar
Aos braços onde quero pousar

Lila

PRÉMIO LEMNISCATA


Queridos amigos,

Estou envaidecida e emocionada com o prêmio recebido
do meu amigo, Poeta talentoso, Whesley Fagliari – do Amigo da Sofia.
Este prêmio representa muito. É prova de amizade e
admiração. Obrigada Whesley – Amigo da Sofia –
Meu amigo.
Junto com o prêmio recebi também algumas tarefas que
Tentarei cumprir com zelo.
Lila

terça-feira, 28 de abril de 2009

Dia da Educação

"E eu gostaria, por fim, que nas escolas se ensinasse o horror absoluto à violência e às armas de qualquer tipo.
Quem sabe algum dia teremos uma Escola Superior da Paz, que se encarregará de falar sobre o horror das espadas e a beleza dos arados, a dor das lanças e o prazer das tesouras de podar.
Que as crianças aprendessem também sobre a natureza que está sendo destruída pelo lucro, e as lições do dinossauro que foi destruído por causa do seu projeto de crescimento, enquanto as lagartixas sobreviveram...
Que houvesse compaixão e esperança."

(Rubem Alves)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um Horizonte

Ainda que as ruas me pareçam
Harmoniosamente planejadas
Docemente implantadas
Nos portais desse Horizonte.
Ainda que as casas me pareçam
Desenhadas uma a uma
Com bom gosto arquitetadas
A templos equiparadas
E humildemente habitadas
Por famílias do bem.
Ainda que os jardins me pareçam
Em constante primavera
E no ar o cheiro das manhãs
Vindas das noites de chuva
Façam dessa cidade
Uma sucursal do céu na terra.
Ainda assim
Não é possível
Que faça dessa, a minha casa.
Daqui não sou.
De muito longe tenho vindo
De muito além dessas montanhas
Em umbrais iluminados
Por fontes desconhecidas
Lindos jogos de luz intensa.
E, muito além de toda a beleza
Que seduz sem distinção
Muito além da poesia
E muito perto da perfeição
Existe um Horizonte

Ainda mais Belo
Que é o meu,

Que é o seu
Que é o nosso lar.

Lila

domingo, 26 de abril de 2009

Tormenta


Não me arranque
Não me dizime
Como erva extraída do chão
Pela raiz
E posta ao sol para secar
Não me mostre (não me interessa)
O ninho úmido e frio
Que a solidão cuida
Como se filho único fosse
Pois que tenho estado sóbria
De tudo que me afasta
Dos valores
Que construí
E falo de amor sim
Não só do carnal
Mas principalmente do outro
Que tem sido o elo permanente
Que me mantém presa
Ao fluído vital
E é assim
Que encontro a sorte
E driblo a morte
Subindo, degrau por degrau
A íngreme, porém doce
Escada da minha vida

Lila

sábado, 25 de abril de 2009

1 Minuto

Agora o silêncio tomou posse
Dos meus sentidos
É uma maneira meio absurda
De ver as coisas
Outra ótica, outro ângulo
Cresci. Não havia outra opção
Se nado com suas nadadeiras
Aquelas com as quais você sonha
E vôo com suas asas
Aquelas que você tenta esconder
E faço minha as suas palavras
Aquelas que até você se recusa
Pronunciar
É que em ti, tento me ver refletida
Como num espelho antigo
Estragado
Que me deixa ver apenas
Pequenos pedaços de mim
Numa espécie de mosaico
Arcaico
Não sou mesmo
Dona de mim
E de soslaio
Vejo suas portas se abrindo
É tudo tão louco.
Acho que enlouqueci
Mas, pensando bem
Nunca fui tão normal assim
A minha ótica é vesga
O meu ângulo não enquadra
E a minha realidade é absurda
Como sempre e sempre foi
A lógica daqueles que sonham
E nunca curtem o seu tempo
Não vivem os seus momentos
Apenas sonham
E sonham
Utopias
Mas existe uma realidade
Paralela
Que me bate à porta
Me chamando pra sair
E saio
E como humanos ando nas ruas
E como normal passo despercebida
E outros seres semelhantes me olham
Desnudando-me a inteligência
Mas somente eu
Só eu conheço
O monstro insano

Nascido da realidade ambígua
Que dorme dentro de mim


Lila

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Canção


Não importa que eu fale
A língua, o dialeto
De um jeito não aceitos
Pelo senso comum.
Não importa que eu ouça
Antigas canções de entristecer
Que eu esteja demodê
E não corresponda, portanto
Ao seu jeito moderno de ser
E não importa se frequento
Lugares aonde ninguém vai
Ou se ando em disparada
Sempre pela contramão
Não importa se me visto
De maneira não graciosa
E se meus versos
Te fazem doer o espírito
Não importa
Se me engasgo
na fumaça do meu cigarro
Se me mato a cada dia
Como um anjo suicida
Não importa
Nada importa
Eu te amo
Mesmo assim
Lila

Homem Menino

Na manhã
abro os olhos
pra vida.
E a flor
é meu guia
pela vida
inteirinha.
Na tarde
a flor
no caule
o espinho.
Passo homem
passo menino.
E a flor
me enfeita
o caminho.
Na Noite
a lua
no vento
o tempo que voa
E já não passo
De menino homem.
Olho em volta
e vejo tanto
e esse tanto
tão pouco tem sido.
E a flor presente
no tempo
me envolve
e vejo que esse
não foi perdido
Pois sempre me sinto
Um homem menino.

Lila

Para o meu homem. Para o meu menino. Para o meu filho - homem menino.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Minha Inspiração


É tarde
mas eu digo
este último verso.
Em teu ouvido
é a última inscrição
que o sono permite
na folha de silêncio.
Depois portas e janelas se fecham
e nem sei se verei
a flor vermelha e imensa da manhã...
Que importa?
A grande alegria,
a toda poesia,
é sua lembrança,
nascente ainda,
que já sei e posso
adormecer
colo do peito!
Mas,
Se a manhã se abrir de novo,
e ao lado o seu corpo,
quente e calmo
me sorrir...
O meu verso sem sentido,
a matéria será.
E terei visto nascida,
desabrochada,
a rosa da minha vida.
*******************************************
Ed,
te dedico esse poema com muito carinho.
Você. Doce e tímido poeta.
Agradeço a Deus a sua presença, discreta e constante.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Sentido

Te encontrei
E minh’alma foi mar profundo
Revolto
Que provocou ondas
Na sua praia
Até então
Deserta de mim.
Te encantei
Como sereia sem sonhos
Sem eira ou beira
Que por força da natureza
Te pareceu mutante.
Absurdamente só
Segui até aqui
Irremediavelmente só
Continuarei então
Te deixando caminho afora
Como rastro planejado
E a solidão que sempre foi
O meu castigo
Por não haver merecido
A sua destra vazia
Me acompanhará
Pois não há – isso lamento
Nesse espaço
Um lugar sequer
Absolutamente seguro
Que me possa manter aqui.
E cumprindo a promessa
Rasgarei o seu papiro
Que pode ser entendido
Como minha sentença de morte
E, depois de tudo,
Cumprida a última etapa
De tornar desnuda
Sua alma
Poderás então reciclar
O que restar de mim

Lila



domingo, 19 de abril de 2009

Cléo insiste...



Amarrada e amordaçada, jogada num canto qualquer, Cléo foi esquecida...
Maria Helena se arruma para sair.
Na frente do espelho avalia a roupa sóbria que escolheu. Cabelos presos num coque, maquiagem discreta. Óculos. Está tudo dentro da normalidade.
No trânsito, suas pernas vão e vêm, sobem e descem. Intercalam a frenagem e a aceleração com a delicadeza que lhe é peculiar. O tempo é curto mas a distância é pequena - vai dar tudo certo. Cléo não existe mais.
Maria Helena não a permite mais.
Sinal vermelho, ela pára graciosamente.
Olha no retrovisor interno para conferir os fios de cabelo que insistem em lhe escorregar pela face. Observa a si mesma. Não há tempo para outras preocupações agora, ela pensa. É preciso seguir.
Mas alguma coisa a prende ao espelho. É o seu olhar.
Seu coração dispara e Cléo lhe salta garganta afora, num grito mudo de desejo realizado, completamente fora do seu controle.
Lá está ela.
Elas conversam entre si? É possível.
Se entendem? Não sei, mas acredito que no mínimo um acordo de damas precisa existir.
Se coexistem, ocupam o mesmo espaço, algumas regras são naturais. Cléo é o id, a parte corajosa de Maria Helena.
Abre-se o sinal.
Quem acelera já não é mais Maria Helena.
Cléo assume a direção.
Ajeita novamente os espelhos, solta os cabelos, joga os óculos no banco. Levanta a saia, Maria Helena é séria demais. Atrás do banco estão seus sapatos preferidos. Joga os que Maria Helena escolheu pela janela e calça outros mais elegantes. Maria Helena é cafona demais. Abre mais um botão da blusa, deixando entrever seu colo alvo coroado por uma corrente que brilha à luz da lua. Muda a maquiagem. O batom agora é vermelho. Seus olhos brilham e sua boca tem um meio sorriso de joça.
A noite promete e ela segue avenida afora.
Vai dançar, rodopiar entre a nuvem de fumaça e cor.
Os planos de Maria Helena foram sabotados. Cléo tem outros mais eficientes, mais modernos e funcionais.
Cléo quebra todos os padrões de comportamento que Maria Helena criou para ambas.
Sente-se bonita e amada. Mulher realizada.
Maria Helena agora, não é paradígma confiável.
É a vida delas. Elas são assim. Se revezam no cotidiano.
Onde uma está, não há lugar para a outra.
Não importa o preço que Maria Helena tenha que pagar pelas atitudes de Cléo.
Agora, quem adormece esquecida é ela.

Lila

Dia de Cléo


Maria Helena se prepara para mais uma batalha. Sabe que é preciso enfrentar a vida e o preço exato de suas escolhas.
Ultimamente urge que se mate uma serpente todos os dias.
A rotina talvez seja a sua maior dificuldade.
É tudo sempre tão igual...Frutos vermelhos e maduros caem pelo chão sob o impacto do vento. Flores molhadas enfeitam seu quintal e são sempre observadas com carinho.
É calma, paciente. Não adianta apavorar, são cuidados do seu ofício.
No rosto, um sorriso franco e constante. Ela está feliz? Nem tanto assim.
São tantas coisas... Tantas preocupações...
Jornada de trabalhadora e mãe. Amigos a zelar, afazeres do lar.

Enquanto isso, Cléo adormece em leito confortável. Cansada e satisfeita.
Ela não se preocupa se é preciso ganhar a vida, labutar pelo pão.
Na sua cabeça, isso são coisas secundárias e ela entende que na pirâmide de Maslow, essas serão certamente suas necessidades alocadas nos degraus mais altos, sendo portanto, menos importantes. Suas urgências, suas prioridades, são outras... É como se tivesse uma escala de valores, totalmente invertida.
Se vem do Egito, ou de qualquer outra parte do mundo, sua vestimenta precisa ser de seda.

Maria Helena conhece a personalidade de Cléo, luta insistentemente contra ela.
Está aborrecida com seu comportamento da noite anterior. Seu corpo ainda possui os sinais das extravagâncias de Cléo.
Enquanto a primeira trabalha duramente, a segunda viaja do Nilo a Las Vegas em questão de segundos.Às margens do Nilo, ela recobra suas forças, alimenta sua vaidade. Em Las Vegas satisfaz sua volúpia.
Aposta tudo. Não há o medo de perder.

Mas hoje existe sinais de amor no ar da vida de ambas. Sinais discretos, quase imperceptíveis, captados pelas duas.
Uma está ansiosa, a outra reticente.
É chegada a hora de amar... E, nesse ponto, a distância entre elas é tênue.
Não importa que traje esteja usando, ele sempre a considera linda.
Mesmo quando está despenteada, amarrotada, ou coisa parecida.
Se são duas em uma. Suprem e suprimem os desejos, numa desordem absoluta, onde prevalecerá quem possuir melhor argumento.

Ele tem um poder inexplicável de reconhecer à distância, qual das duas virá recebê-lo.
- Como podem coexistir de maneira tão harmoniosa? Pensa ele...
Sabe que o olhar dela ou delas, pode levá-lo a lugares inimagináveis - é isso que o atrai - a surpresa.
Viajante que tem sido, reconhece nessa mulher uma diferença.
Não melhor nem pior, é apenas diferente.
Estuda seu comportamento. Tenta descobrir o quê a faz ser assim .
O porquê do seu amor fugaz e urgente num momento e sua frieza polar no seguinte...
A sua presença discreta e carinhosa e o seu desprezo absoluto...
O riso alegre e em seguida o choro compulsivo.
Ela é louca? Pensa ele.
Não, não é. É sensível e inteligente.
Não seria essa a sua marca?
Não seria a sua facilidade em se valer do cérebro ou do corpo, de acordo com a conveniência do momento?
Ele pergunta: - Quer beber ou amar?
Sem pestanejar ela responde: - As duas coisas. Eu posso?
Não é possível resistir.
Qualquer plano que tenha sido traçado, é imediatamente corrompido.
Essa nuance da sua personalidade o enlouquece.
A bebida não é tão importante. O efeito é sempre o mesmo:Trás Cléo de volta.
E ela reina absoluta.
Como se rainha, nunca houvesse deixado de ser.
E isso é tudo que ele quer...

**************
Essa é uma estorinha da Cléo - personagem vinda da minha fantasia. A outra, a Maria Helena, foi criada por um amigo - o poeta Joeldo Holanda. Cléo é aventureira e Maria Helena é a executiva, a séria. Ambas habitam um mesmo corpo, e Cléo, sempre que pode, sabota os planos de Maria Helena.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Para um Amigo

Perfure a sua veia poética
E deixe-a sangrar
Mas que não chegue à exaustão
Que sangre apenas
O suficiente
Para que possas me dizer
O quanto sou
Para você
Esqueça por um tempo
A sua engenharia
Os seus cálculos
E a sua lógica
E seja apenas
E tão somente
O poeta
Que me viu em noite de lua
Quando o vento sem vergonha
Desmanchou meu penteado
E as estrelas se confundiram
Com o meu sorriso
E bobo, diante do sentido
Da simplicidade
Lamentou não ser poeta
E mesmo que eu não entenda
Uma só palavra
Olhar-te assim
Sorrindo para mim
Por si só
Já tem sido
Um poema

Lila

Mauro

A vida passa
Enquanto eu penso
Calculo
Multiplico
Divido
E não chego a um resultado
Razoável
Passo o tempo
Perco o tempo
Que me engana
Passo
E, muitas vezes,
Fico
E a sua lógica
Me convence
Que tudo está
No seu devido lugar
Se choro
Você diz:
Besteira!
Se rio
Você diz:
Que lindo!
E da fotografia
Exposta na vitrine
Você diz:
Você é muito mais que isso!
E te ouvindo
Deduzo
Não sou forte
Muito menos
Frágil

Lila

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Primeiro Amor


É noite do primeiro amor
Doce visão do meu leito
Estrelas descem. Se misturam, teto e chão
Não há muito além das paredes,
que ora transparentes são.

É noite do primeiro amor
Ao fundo uma canção.
Novos cheiros, novas cores.
Olhares se cruzam. Urgência e desespero
Falam-se. Entendem. Sem palavras

É noite do primeiro amor
Coroação do êxito, da conquista.
Amor concebido em alto custo
Onde valeu a pena, cada minuto da espera.

É a nossa noite, meu amor.
Lá fora o tempo urge, a vida passa,
No solo, a chuva cai numa cantiga ritmada.
No meu colo, a vida levanta renovada.

Nossas diferenças já não importam
As forças se equiparam
Estamos quites
E somos dessa vez, iguais.

Lila.
escrito em 10/dez/08

domingo, 12 de abril de 2009

O Terceiro Ser

Não hão mesmo de me explicar ou definir.
Pois que sou a Lua de Eva na tez da Musa
e o Sol de Adão na definição do Poeta.
Na manhã existe um riso no meu riso e na tarde,
adormeço sob árvores fora do chão.
E, quando a noite se aconchega, uma lira se subjuga a mim
num eterno encanto que não se quebrará jamais.
E quando, um dia, alguém unido a mim por um laço de amor
vindo das mãos de uma criança,
loura como os anjos que me visitam – me decifrar...
Então já não serei mais eu –
pois haverei de ter perdido a essência que me tornou uma espécie marginal.
Sinto que posso ser o Ser que une metades perdidas –
o nó e o elo.
A ofensa e o perdão.
E assim, permanecerei estática
e absurdamente operante,
até que a profecia se cumpra.
Pois sou o reflexo do amor em sua plenitude

E, esse outro Ser – a minha outra metade,
que ousará me definir
com o mais completo e satisfatório jogo de verbos,
não mais me encontrará a mim – que ainda nada sou,
mas terá encontrado a si mesmo.
E, dentro desse poço que tem sido o acumulado dos nossos dias, seremos então um só –
um terceiro Ser Perfeito que não mais caberá aqui...
Será livre e voará em espaço aberto,
Gotejando luz.


Lila

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Rotina

No criado nem tão mudo
A foto no porta retrato
Sorri para mim
Por onde vou
Esse olhar me acompanha
E a passos largos pelo corredor
A deixo sempre para trás
E lamenta em silêncio
A minha ida
Perco a condução
Ando atrasada demais
Já não te dou mais o tempo
Do silêncio
Onde fitava seus olhos azuis
Que dispensavam a retórica
Me dizendo sempre o tudo
Que precisava ouvir
Não me entendas diferente
Do que tenho sido
O tempo urge
Sempre contra mim
Vinte e quatro horas!
Se o tempo, tão relativo
Corre e pára quando quer
Mas voltarei para você, quando puder
E no ombro da cadeira
Quero a camisa branca
Com a marca do meu beijo
E essa vida agitada
Que não nos tem dado tempo pra nada
Irá fazer uma parada
Num porto, há tanto só nosso
E da janela hoje fechada
Veremos de novo em silêncio
O pôr do Sol no nosso horizonte.


Lila

domingo, 5 de abril de 2009

Equidade?

Encosto num canto a vassoura
Que em minhas mãos treme
Como se fosse capaz de voar
Se eu não houvesse
Perdido as aulas de treino

E olho novamente pela janela
Agora já não só com meus olhos humanos
Tento enxergar coisas que vão além disso
O andar que oculta o mistério da ida
Sem a certeza da volta

O homem carrega o peso
Que talvez um animal suportaria
A mulher engana o estômago
Que reclama por não mais aguentar
A mentira que ouvirá, a cada vez que reclamar.

Enquanto isso
Aqui nas bandas do luxo
Joga-se fora, todos os dias.
Muito mais do que o suficiente
Para que eles possam viver

Tudo é contraste
Choque de realidades distintas
Mãos feridas de calos, mãos que se ferem de tão finas.
E na minha consciência do certo,
Isso é dor por demais doída

Faço uma comparação
Do sonho e da realidade
Do que se apregoa
E do que se realiza na prática
Ambos estão confusos

E o meu conceito de coerência
De caridade e amor
Onde ficou?
Onde foi exatamente, que o perdi?
Eu não sei...

E a imagem que vejo da janela
Torna-se um reflexo de mim
Linda e saudável por fora
Mas apodrecendo por dentro
Pelos efeitos nocivos, que me causam a omissão.

E já não me agrada mais o que vejo.
Cada dia diferente.
Mutante, como são os sonhos.
E a miséria me incomoda
A falta do básico me destrói

Essa impotência me faz sonhar muito mais
Sonhos já não tão possíveis
Quase utópicos até
Com um Estado mais justo
Onde todas as esferas cumpram seu papel

Onde equidade, a famosa justa medida
Não seja apenas,
Uma bonita palavra
E vale lembrar, Sr. Estado
Que eu conheço os seus caminhos

Conheço sua tendência doentia
Em bancar o Robin Hood ao contrário
E socorrer a banda do luxo
E deixar a outra, a do lixo
Morrer de inanição

Esquecida, como tudo o que incomoda deve ser.
Deixando propositadamente
Que homens e animais se misturem aos restos
E que sobrevivam
Que driblem sua fome e sua doença, se puderem...

Lila

Ainda Bem...



Ainda bem que fiz da vida
Uma estrada de uma mão só
Posso seguir
Não posso voltar

Ainda bem que semeei grãos
Que germinaram
E quando olho para trás
Vejo flores
Vejo frutos

Ainda bem que fui capaz de sonhar
Sonhos possíveis
E quando olho à minha frente
Os vejo descortinar
Um a um, grandes exemplos

Ainda bem que cumpri obrigações
Segui orientações
Respeitei a lei
Sonhei sonhos lícitos
E fui capaz de amar

Ainda bem que me dei chances
De sempre construir
Mesmo quando a razão me dizia:
- Destrua!
Ainda bem que foi assim...
Lila

terça-feira, 31 de março de 2009

Ruínas

Com a alma nua de vaidades,
O anjo que não se vê
Está postado
Sobre o sino,
hoje mudo
Sem badalo.
Vigia a cidade.
Sob seus pés
Os restos
Do que fora um dia
Poder e honra.
No passado a glória
Hoje ruína e pó.
Transeuntes
Sobem e descem
Ele observa
O poder que na eterna disputa
Muda de mãos.
Outrora luxo
Hoje miséria
Arfa asas
Espreguiça.
Aproximo
Vejo contraste
Passado e presente
Vida e morte
Ao orgulho
Conceitos
Preconceitos
E o anjo simplesmente
Sorri...

Lila
(Série Anjos)

segunda-feira, 30 de março de 2009

Altar

O Poeta banha-me em palavras.
Embala-me de amor,
me deixando sonolenta - a alma.
Dá-me o alimento,
que o dinheiro não compra.
O pão que não vem da labuta.
Misturando aos animais,
às cores,
às flores.
Sou eu a paisagem.
Sou musa do poema sem nexo.
Sou a prosa, sou o verso,
sou o seu altar de amar.
Vou de alfa a ômega,
o tempo já não conta.
E meu corpo, que já não é tão meu,
reflete agora palavras -
desordenadas
que só eu posso entender,
pois são minhas,
como tatuagens definitivas
desenhadas uma a uma,
por seus dedos que são,
penas mágicas que em mim escrevem,
com carinho,
letras de luz.

Lila

quinta-feira, 26 de março de 2009

É noite de chuva

Agrada-me a cor e a textura do papel cuidadosamente disposto à minha frente.
Uma pena, um tinteiro. Uma cabeça cheia de idéias.
O branco da minha camisa se mistura ao da toalha da mesa. Não há mais ninguém nessa sala. Para o que farei agora, dispenso testemunhas.
Tudo parece tão simples. É só desenhar letras cursivas enfeitadas, articulando suaves palavras. Palavras essas, que chegarão às suas mãos depois de secas, dobradas e entregues ao serviço de correios mais confiável do mundo.
Sim, certamente elas te chegarão a ti.
“Lembro-me com nostalgia das loucuras do nosso passado e da sua insistência em me pedir:
- Cuide um pouco mais de mim.
Sei que isso já passou. Assim como tantas outras coisas que ficaram esquecidas no tempo, sufocadas pela razão. Pela minha razão.
Parece que chego a ouvir de novo sua voz rouca e pausada. Sentir o calor daquela luz que entrava pela janela desse mesmo cômodo, onde hoje sozinha, me permito sem culpa, tocar no assunto.
Abortei tantas vezes os nossos sonhos, como se fossem só meus.
Não embarquei no trem do destino que partia em alta velocidade. Fiquei parada nessa estação.
E o mundo girou. As coisas se ajeitaram, cada uma em seu devido(?) lugar.
Cresci como broto castigado nas pedras, me enfiando pelas frestas, sendo o que era possível ser.
Às vezes, recebia lacônicas notícias suas. Do seu vagar quixotesco mundo afora. Da sua ilusão alimentada pela minha lembrança. Do seu choro convulsivo diante da imagem do meu ventre inchado, que fazia brotar uma semente que não era sua.
Confesso agora, que neste dia, eu também chorei.”

Levanto-me da cadeira. Invadida pela sensação paradoxal de que vivo num mundo marcado pela robotização e pelo sonho(Ed).
Opto pelo sonho.
Vou atrás do nosso sonho.
Ressuscitado.
Agora assustadoramente realizável.

E te bato à porta. Não como antes. Mas como o cão perdido que retorna.
Seu olhar me percorre. Reconhece o bem perdido, encontrado numa prateleira qualquer, ostentando no pescoço um laço como os dizeres: “sempre fui sua”...
Não esperava que houvesse festa e flores. Que ao fundo tocasse a música suave que nos embalou por tantos anos.
Eu só queria mesmo, esse olhar que me fita agora.

Lila

terça-feira, 24 de março de 2009

Mão-dupla

Ah,
Esse meu amor
Que me vê
Equação sobrenatural
Que me lê
Transcendental
Veste uma calça jeans
E caminha sem camisa
Se exibindo para mim
E na mesa da cozinha
A fotografia esquecida
Vem a crise de ciúme

Ah,
Esse meu amor
Que me vê
Enciumada
Que me lê
Descompensada
Visto uma saia curta
E caminho pela rua
Com a minha face rubra
E na mesa da cozinha
Já não há fotografia
Mas um ciúme, que continua

E,
Esqueci a ortografia
É a mão-dupla da via!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Um


Abril
É a promessa
Verdade em dose homeopática
Início de uma fase
Do infinito lúcido
E que ele [nosso palco]
Continue onde sempre esteve
Irremediavelmente estático
Naturalmente iluminado
Maravilhosamente espelhado
No vestido de seda
Da chamada poesia
Abril
Mês do amor escandalizado
Amaldiçoadamente abençoado
Nos sonhos que permitimos
Beijos desperdiçados
No calor insuportável
Da imaginação
Idas que já não são
Tão definitivas
Espera que já não é
Tão assustadora
Saudade que já foi
Tão destruidora
Seguir-te hei
Como se sua sombra fosse
E a silhueta desenhada
Na fumaça do meu cigarro
Diz-me em voz entrecortada
Quando já não quero mais ouvir
Que não há um lugar sequer
Pra onde possa fugir
E essa nossa loucura
Pincelada pelo tênue traço da sanidade
A mim e a ti mostra
Que já somos

Quase um

Lila


sábado, 21 de março de 2009

Paisagem da lagoa

(Para Lila, com carinho)

uma placa anuncia peixe
a preço de morte e de doença
equilibrada no olhar da moça
uma garça abre sua plumagem de pureza, inocência e horizonte
sobre tudo, perpassando e unindo coisas e homens,
a rola pastora turturina, em lusco-fusco,
sem pretensão nenhuma de poesia,
sem pretensão nenhuma de poema
e apascenta o lobo e o cordeiro
- o sonho de amor do profeta Isaias!
: em diverso paraíso:
voa uma costelada em céu azul-lilás
fecha-se no crepúsculo o sol de Adão...

Ed

(Para o Poeta)

O poeta caminha
Na minha direção
Seus passos incertos me tem buscado
E sou um nada, ainda
Vejo-o calmo, tranquilo
Como o movimento das águas
Que dançam sob meus pés
O Sol se põe, escurecendo a cidade
Tornando-a grande demais
E já não se anuncia mais nada
Seres reluzentes circulam a orla
E a visão que se tem
Não pode ser vendida
Sigo meu caminho de volta,
Sei que o deixei perdido
Assim como eu sempre estive
E um novo poema se desenha em corpos
Escrito a pincél de luz...

Lila

quinta-feira, 19 de março de 2009

Verbo

Há um quê de medo
Reinando em nossas falas.
Construímos um mundo de palavras
E chega a hora
De silenciar o verbo
Já quase esgotado.
Somos um só momento
De inefável feito
De calma e silêncio.
Substituímos verbo por passos
E caminhamos um e outro
Na mesma direção
Nos encontramos
Na esquina dura de concreto armado
Enfeitada de eras
Que transformadas em caminho
Nos torna um ao outro
Indispensáveis
E já não nos ocultamos
Nas palavras
Mas permitimos o primeiro verbo lírico
Que se insinua
Expressando o incompreensível ainda
- Adoro você!

Cisne

Divergimos em tantas coisas,
Mas isso confere graça à clave
Destoamos na assiduidade
Encontramos a frequência.
Mas nada perdemos com isso
Sou noite, você dia
Sei contemplar os cisnes dos mansos lagos...
Enquanto você se perde e se encontra em números
Seus cabelos ainda são negros,
Enquanto os meus mostram rastros da experiência
Meus olhos não têm mais aquela vivacidade dos de um corcel,
Lembram apenas os de um cão
Mas os seus são pérolas negras refletindo o brilho do espelho d´água
Posso estar envergando um capote, ou enrolado numa capa;
Mas mesmo que não haja, verei uma lira nos seus braços.
Eis-me em rápidos traços, em edição revista, mas nem por isso melhorada.
Todo me dou aqui, sem temor algum, e sei que, ao mirar as águas da lagoa, ou o vidro dos seus olhos, vou continuar a te querer mais e mais...
Não buscamos a beleza efêmera
Somos dois verbos que se tocam, e isso, liberto do aparente verniz retórico, já é um poema inteiro de ternura.
E é assim, só assim, que posso te amar
Dessa forma, atraído pelo ser que é, em tudo
O exato oposto de mim...

Lila e Ed

quarta-feira, 18 de março de 2009

Aprender


Sinto-me flor
Árvore inteira a florir
Antes de chegar a primavera
Ao simples toque de suas mãos
Nos meus cabelos
Ainda úmidos da chuva que caiu
Sinto-me flutuante
Como pássaro em dia quente
Ao simples toque dos seus lábios
Na minha boca
Ainda dormente dos beijos seus
Sinto-me amor
Quando nos ausentes espaço e tempo
Vejo-te me abraçar
E a noite pode cair
E o dia pode se abrir
E, alheia a tudo
Colho as flores
Distribuo as sementes
A quem quiser comigo
Aprender a amar...

Lila